Caminhada PR 13 VEREDA DO FANAL - Ilha da Madeira por Bruno Azevedo

Isabel Fagundes: Aeroporto "livre" de aves


Bióloga Isabel Fagundes no Jornal da Madeira

JORNAL DA MADEIRA - J ORNAL da MADEIRA - Recentemente, nos Açores, no Aeroporto João Paulo II, em São Miguel, procedeu-se ao abate de "milhafres", aves também conhecidas como "mantas". Na Madeira, há algum risco de que isso também possa vir a acontecer?
Isabel Fagundes - A situação no Aeroporto Internacional da Madeira é ligeiramente diferente. Na Região, há uns anos atrás, um dos problemas seriam as gaivotas ou pombos. Por isso, já em 2001/2002, foi realizado um estudo pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves em colaboração com o Parque Natural da Madeira, no sentido de apurar o impacto das gaivotas nos aeroportos, quer na Madeira, como no Porto Santo.
JM - Mas relativamente à existência das "mantas"...
IF - Nunca se verificou uma situação dessas, embora já tenha havido registos de impacto de pombos e gaivotas, mas não temos conhecimento de que isso tenha acontecido com aves de rapina, como é o caso das "mantas". Além disso, não existe, nas imediações do Aeroporto Internacional da Madeira, grande concentração desse tipo de aves. Poderão ser registados uma ou duas "mantas" ou "francelhos", mas em número pouco expressivo. Nunca se verificou estas concentrações como nos Açores.
JM - De qualquer forma, que diferença poderá haver entre o impacto de uma gaivota ou uma "manta"?
IF - Qualquer ave, por mais pequena que possa ser e dependendo também de onde ela irá bater, tem sempre impacto no avião. Poderá, ser um impacto insignificante, mas poderá, por exemplo, bater no vidro do "cockpit" e dificultar a visibilidade.
JM - Voltando à questão do estudo, ele deu alguma indicação quanto à identificação dos problemas das gaivotas e dos pombos e eventuais soluções?
IF - Nós recomendámos um conjunto de medidas que deveriam ser adoptadas pelo Aeroporto Internacional da Madeira, no sentido de afugentar as aves e manter aquela área relativamente livre de aves.
JM - E quais foram essas recomendações?
IF - Sabendo que a maior colónia de gaivotas fica no Ilhéu do Desembarcadouro na Ponta de São Lourenço e que, na altura, na zona da Meia Serra, havia ainda uma área de lixeira a céu aberto, esse era um dos motivos para o aparecimento de gaivotas. Hoje a situação já é bastante diferente, o que faz com que não haja, agora, uma disponibilidade de alimento tão grande como se verificava na altura, na Meia Serra. Entre o Desembarcadouro na Ponta de São Lourenço e a Meia Serra, onde elas iam buscar alimento, o Aeroporto Internacional da Madeira acabava por ser um local de passagem, assim como outros locais de repouso. Porém, uma vez que com os novos métodos de tratamento dos resíduos, como a incineração, não existe, praticamente, alimento disponível para as gaivotas.
JM - Foi apontada mais alguma solução?
IF - Sim, foi feita a recomendação para manter sempre a relva curta, junto à pista, para evitar, por exemplo, que esta sirva de esconderijo, ou o aparecimento de ninhos, ou de insectos que sirvam de alimento. Além disso, foi também sugeridos equipamentos para afugentar as aves, como material para emissão de sons. O Aeroporto Internacional da Madeira utiliza as chamadas "bombonas" de gás, que emitem sons, de vez em quando, para afugentar.
JM - No caso dos Açores não há nenhum mecanismo para afugentar as aves?
IF - Tem um semelhante ao que temos aqui na Madeira. Mas, no caso dos Açores, as "mantas" já estavam habituadas à presença humana e a ruídos, naquele caso específico, não conseguiram afugentá-las com a emissão de sons. De qualquer maneira, o número de "mantas", na Madeira, é bastante menor ao dos Açores. Ainda este ano, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves elaborou um censo de "mantas" na Madeira e nos Açores, onde se verificou isso mesmo, que a população de "mantas" na Madeira é bastante menor. O relatório apontava para a existência de 268 "mantas" na Madeira e Porto Santo, enquanto que, nos Açores, anda à volta dos mil indivíduos.
JM - Esse equipamento de emissão de ruídos sonos foi uma das vossas recomendações?
IF - Não. Já antes de termos feito o estudo sobre as gaivotas e pombos, o Aeroporto Internacional da Madeira já tinha esses dispositivo.
JM - Apesar do grau de imprevisibilidade das aves, o Aeroporto Internacional da Madeira é seguro desse ponto de vista?
IF - Precisamente, não podemos controlar o voo das aves, de qualquer maneira a probabilidade disso acontecer é bastante reduzida. Por isso, podemos considerar que, desse ponto de vista, é um aeroporto seguro.

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