Caminhada PR 13 VEREDA DO FANAL - Ilha da Madeira por Bruno Azevedo

Projecto SOS Freira do Bugio

DNOTICIAS.pt - Estrutura digital EDN: "Projecto SOS Freira do Bugio "


22:45 Horas, 22 de Outubro de 2006, Deserta Grande Dia duro. Hoje acordamos pelas 7:00 e pelas 8:30 estávamos já a subir para o planalto sul do Bugio. O objectivo da viagem de hoje era fazer um transporte de água e de mantimentos, para garantir a nossa subsistência lá em cima para as próximas visitas de campo. Fomos todos; no total éramos cinco pessoas o que deu para levar muita coisa. Não sei se é pior a travessia entre a Doca da Deserta Grande e a subida leste para o Bugio, que significa uma hora de pancada no bote, ou se é a própria subida, onde qualquer distracção é a morte do artista. Aquele Bugio é a ilha mais inacessível e inóspita que se pode imaginar, é um verdadeiro fio de uma navalha. O que é que deu na cabeça da Freira do Bugio para irem para lá (e só para lá!) fazer os seus ninhos? Para isto ainda tenho resposta, e provavelmente tem a ver com a destruição do habitat que os coelhos, as cabras e os murganhos, tudo espécies introduzidas pelo homem, causaram nestas ilhas. Para o que não tenho resposta é para a seguinte pergunta: E o que é que me deu na cabeça para aceitar este contrato de quatro anos para biólogo do Projecto Life SOS Freira do Bugio? Quando estou cansado e farto, como agora, tenho que me lembrar que estou a trabalhar para a salvaguarda de uma espécie de ave marinha que está entre as mais raras e ameaçadas do Mundo. Há dias em que isso chega para aceitar o cansaço e a separação da Rita. Hoje definitivamente não chega…é melhor dormir para não gastar muitas páginas deste diário a sentir pena de mim próprio. 22:00 Horas, 24 de Outubro de 2006, Bugio Depois de um dia de descanso, que me fez lembrar que a vida até tem uns dias com um colorido bem engraçado, já cá estou outra vez para mais uma estadia neste planalto com quem mantenho uma relação de amor - ódio. O que eu de certeza não amo, aliás sei que odeio profundamente, é este quadrado de lata a que o chefe chama "casa do bugio"…olha, se isto é uma "casa" ele que venha para cá viver! Outra coisa engraçada é quando ele cá vem e fala na "cozinha", um amontoado de pedras com um banco todo torto…enfim. Vá lá que pelo menos tem energia solar para termos luz e carregar o rádio, nossa única ligação com o mundo. É pena não ter rede de telemóvel para falar para casa, nem televisão para ver os jogos do glorioso. "Não há não se quer!" (como diria o nosso bom amigo Joel que está aqui deitado a meu lado). Passei o dia a verificar os ninhos que as freiras escavam no solo fofo. De facto o uso deste endoscópio facilita a observação para dentro dos ninhos…principalmente aqueles com mais de 2 metros de cumprimento. Os casais chegaram em Junho e nesta altura do ano já todos os ovos eclodiram. São casais modernos…os dois alternam no trabalho de chocar o ovo e, agora, na dura tarefa de alimentar estas bolas de penugem. Durante a incubação enquanto um fica no ninho o outro vai para o mar alto se alimentar, de forma a ter forças para passar uns dias valentes sem comer nada, tomando conta do futuro da espécie. É giro pensar que de cada um desses ovos saiu um pequeno ser que irá ter a grandiosa missão de perpetuar esta espécie extremamente vulnerável. Vão abandonar a ilha em Dezembro, sem ajuda dos pais, passar os próximos 3 ou 4 anos no mar alto, não se sabe onde, para então voltar e escolher aquele que vai ser o seu companheiro para toda a vida. Ainda ninguém percebeu como é que eles acertam no local de onde saíram, e mais complicado ainda, como é que sabem qual é o seu ninho ano após ano! Bom mas não vou ser eu a descobrir isso, muito menos esta noite, este chato daqui a nada começa a ressonar nesta lata maldita, e se não adormeço agora lá se vai mais uma noite sem pregar olho!Caixa de texto independente Aves marinhas pelágicas: Grupo de aves adaptadas e especializadas à vida no mar alto. Apresentam uma elevada variabilidade que não esconde uma evolução convergente, no sentido de resolver os problemas relacionados com a utilização deste tipo de habitat muito específico. No geral são aves que apresentam uma elevada longevidade, prolongados períodos de reprodução, posturas de um só ovo sem reposição e um elevado investimento parental. Durante o seu ciclo de vida só procuram terra firme para nidificar, regra geral em colónias muito numerosas e que, fora do período de incubação dos ovos, só são visitadas à noite. Efectuam grandes migrações (normalmente trans - equatoriais) que na maior parte dos casos ainda não são conhecidas em pormenor. Tendo em conta a sua adaptação a meios onde não existiam predadores ou qualquer outro tipo de pressão humana (ilhas ou ilhéus), são extremamente vulneráveis às alterações que o homem introduziu nestes ambientes, nomeadamente destruição e degradação do habitat e introdução de espécies (ratos, cães, gatos, gado, entre outros).
Parque Natural

Comentários